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A segurança psicológica, popularizada por Amy Edmondson, professora da Harvard Business School, é essencial para ambientes de trabalho saudáveis e produtivos. Segundo Edmondson, quando colaboradores se sentem seguros para compartilhar ideias e admitir erros sem medo de retaliação, o desempenho organizacional melhora significativamente. Esta ideia foi validada pelo "Projeto Aristóteles" da Google, que identificou a segurança psicológica como um fator chave para o sucesso das equipes
A Google define segurança psicológica como a certeza de que nenhum membro da equipe será punido ou ridicularizado por cometer um erro, fazer perguntas ou propor novas ideias. Não se trata de manter um ambiente excessivamente agradável, mas sim de fomentar um espaço onde o feedback é honesto, os erros são abertamente admitidos e o aprendizado é incentivado.
O que Segurança
Psicológica não é?
Muitos líderes perguntam se a segurança psicológica pode comprometer o desempenho dos trabalhadores. Esta preocupação geralmente resulta de uma má compreensão do conceito.
Não é sobre
ser "legal": Segurança psicológica não significa evitar conflitos,
mas sim promover um diálogo honesto e aberto, onde diferentes pontos de vista são
bem-vindos.
Não depende
de personalidade: Segurança psicológica não está ligada a traços de personalidade;
todos, sejam introvertidos ou extrovertidos, podem se sentir seguros.
Não é sinônimo
de confiança: Embora a confiança seja importante, a segurança psicológica é
uma crença coletiva no ambiente de grupo.
Não significa reduzir padrões de desempenho: Criar um ambiente psicologicamente seguro não implica em diminuir os padrões, mas em aceitar erros como parte natural do processo de aprendizado.
Importância
da Segurança Psicológica
A segurança psicológica é vital para a inovação e o aprendizado contínuo. Em 2023, um estudo da Conexa, ecossistema digital de saúde, revelou que 87% das empresas registraram afastamentos devido a questões de saúde mental. Ambientes onde os colaboradores se sentem seguros tendem a ter menos casos de ansiedade, depressão e burnout, destacando a relação direta entre segurança psicológica, saúde mental e a segurança dos trabalhadores.
Não se deve interpretar que a finalidade deste artigo é limitar a segurança psicológica a um transtorno mental. O objetivo é ampliar a perspectiva, pois a ausência de segurança psicológica pode ser um dos fatores que contribuem para problemas de saúde mental entre os trabalhadores. O estigma relacionado à doença mental desempenha um papel significativo na redução da segurança psicológica no ambiente de trabalho. Quando as pessoas temem ser julgadas ou discriminadas por suas condições de saúde mental, elas se sentem menos seguras para expressar suas necessidades, dúvidas e erros. Isso resulta em um ambiente onde os problemas são ocultos, em vez de discutidos abertamente, e as oportunidades de apoio e intervenção precoce são desperdiçadas.
Reconhecendo
o Burnout
Dada a relevância
sobre o Burnout e o impacto na Segurança no Trabalho, compartilho algumas estatísticas
sobre este tema:
Afastamentos
por Burnout no Brasil: Em 2023, 421 pessoas foram afastadas do trabalho por
burnout, o maior número dos últimos dez anos, segundo dados do Instituto Nacional
do Seguro Social (INSS).
Prevalência
no Brasil: Aproximadamente 18% dos brasileiros são vítimas da Síndrome de Burnout,
sendo que a maioria da população afetada tem menos de 30 anos.
Aumento
nos Casos de Burnout: Houve um aumento de 18% nos casos de burnout entre funcionários
de empresas brasileiras em sete anos.
Posição do Brasil no Mundo: O Brasil ocupa o segundo lugar no mundo em número de casos diagnosticados de burnout, ficando atrás apenas do Japão, onde 70% da população é afetada.
A Organização
Mundial da Saúde (OMS) reconheceu oficialmente o burnout como um fenômeno ocupacional
em 2022. O burnout é caracterizado por exaustão extrema, estresse e esgotamento
físico resultante de situações de trabalho desgastantes. A CID-11 inclui o burnout,
destacando que ele resulta do estresse crônico no trabalho que não foi gerenciado
com sucesso. Os principais sintomas incluem sentimentos de esgotamento energético,
aumento do cansaço mental e uma sensação de incompetência.
Fatores como pressão por altos resultados, sobrecarga de tarefas, longas horas de trabalho, falta de recursos e ambientes de trabalho tóxicos são os principais contribuintes para o burnout e impactam diretamente na segurança dos trabalhadores.
Baixa segurança psicológica significa que os colaboradores não se sentem à vontade para compartilhar suas experiências ou admitir suas dificuldades. Esse ambiente de medo e desconfiança impede a criação de relações saudáveis e solidárias no local de trabalho, exacerbando o estresse, o cansaço e a deterioração da saúde mental.
Sobre
a Revisão da NR1 - Disposições Gerais e Gerenciamento de Riscos Ocupacionais
Este tema se torna tão relevante que aqui no Brasil, tivemos a Revisão da NR1, que inclui a necessidade de Avaliação de Riscos Psicossociais, “Para a probabilidade de ocorrência das lesões ou agravos à saúde decorrentes de fatores ergonômicos, incluindo os fatores de riscos psicossociais relacionados ao trabalho, a avaliação de risco deve considerar as exigências da atividade de trabalho e a eficácia das medidas de prevenção implementadas”. Inclusive, na NR 20 Fundamentos e Diretrizes Gerais de Segurança e Saúde no Trabalho, há uma menção sobre este tema, também com necessidade de avaliação, para as equipes de resposta a emergências, e define Riscos Psicossociais “como a influência na saúde mental dos trabalhadores provocada pelas tensões da vida diária, pressão do trabalho e outros fatores adversos”.
Na OIT – Organização Internacional do Trabalho, os riscos psicossociais “são interações entre o ambiente de trabalho, conteúdo do trabalho, as condições organizacionais, as capacidades e necessidades e cultura do trabalhador, além de considerações pessoais extra laborais que podem por meio de percepções e experiência, influenciar a saúde, o desempenho e a satisfação no trabalho”. Segundo a OIT, esses riscos incluem, mas não se limitam a carga de trabalho excessiva, falta de apoio, ambiguidade de papéis e bullying. Esses fatores podem afetar negativamente a saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores. Importantíssimo considerá-los em qualquer ambiente de trabalho.
Embora o psicólogo
seja o responsável pela avaliação de riscos psicossociais no ambiente de trabalho,
a colaboração com outros profissionais proficientes da área, de forma multidisciplinar,
pode ampliar e aprimorar os resultados dessas avaliações, tornando-as mais abrangentes
e aderentes à realidade dos trabalhadores.
De acordo com a Resolução do CFP nº 14/2023, que regulamenta o exercício profissional da(o) psicóloga(o) na realização de avaliações de riscos psicossociais relacionados ao trabalho, essas avaliações devem ser conduzidas por um psicólogo ou psiquiatra habilitado. Se realizadas de forma multidisciplinar, as chances de um trabalho sistêmico e holístico são significativamente maiores.
A Lei nº 14.831, de 27 de março de 2024, que instituiu o Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental. Essa lei estabelece os requisitos para a concessão do certificado, que será concedido pelo governo federal às empresas que atenderem aos critérios de promoção da saúde mental e do bem-estar dos trabalhadores.
Para que todas essas ações sejam eficazmente desenvolvidas nas empresas, é fundamental fortalecer uma cultura de cuidado, prevenção e suporte aos trabalhadores. Deve-se incentivar e apoiar essas práticas para que sejam sustentáveis e realmente melhorem a performance e a qualidade de vida dos colaboradores.
Promovendo
a Segurança Psicológica nas Equipes
Segurança Psicológica envolve a disposição dos colaboradores para admitir: "Cometi um erro" ou "Tenho uma dúvida que parece boba, mas preciso perguntar". Então, o que impede os funcionários de se expressarem? As razões pelas quais os colaboradores ficam em silêncio revelam aspectos da natureza humana. Ninguém quer parecer que não é inteligente ou que causa problemas. Queremos ser percebidos como competentes, prestativos e capazes nas funções que exercemos. Desde jovens, aprendemos a disfarçar comportamentos desafiadores, e isso persiste na vida adulta, inclusive no ambiente de trabalho. Esse conceito é conhecido como "Gerenciamento de Impressões". O Gerenciamento de Impressões prejudica a Segurança Psicológica e, por consequência, as chances de sucesso organizacional. No entanto, não podemos esperar que as pessoas mudem esse comportamento sem algum nível de apoio e sem estabelecer uma cultura onde se sintam seguras para se expressar. Se a empresa não se dedicar a implementar ações que promovam a segurança psicológica, a política do medo e a cultura do silêncio certamente se estabelecerão.
Para fomentar a segurança psicológica nas equipes, algumas práticas podem ser implementadas:
Incentive
a Comunicação Aberta: Estimule a troca de ideias e feedback de forma respeitosa.
Promova
a educação e a conscientização: Desmistificar estereótipos e reduzir o estigma
é fundamental. Criar um ambiente de trabalho onde a segurança psicológica é estimulada,
desenvolvida e praticada efetivamente pode ajudar a garantir que todos os colaboradores
se sintam valorizados e apoiados, independentemente de suas condições inclusive
de saúde mental. Isso inclui políticas de inclusão, serviços de apoio psicológico
para ajudar a lidar com estresse e outros problemas e uma cultura de comunicação
aberta e honesta.
Crie um
Ambiente Inclusivo: Valorize e respeite cada membro da equipe.
Reconheça
e Valorize o Trabalho: Recompense os esforços e conquistas dos colaboradores.
Implemente Políticas Flexíveis: Ofereça horários de trabalho variáveis e a possibilidade de trabalho remoto.
Naeema Pasha, afirma que “todas as partes constituintes do bem-estar no local de trabalho, incluindo a desestigmatização, devem ser integradas ao nível de estratégia executiva e ser uma prioridade coletiva, e não uma prioridade exclusiva das equipes do RH”.
Adotar essas práticas em toda a empresa pode transformar o ambiente de trabalho, tornando-o mais seguro, saudável e sustentável.
Empresas que promovem a segurança psicológica observam um aumento na saúde mental dos seus colaboradores e na performance da equipe, resultando em um ambiente mais harmonioso e eficiente.
Este artigo foi elaborado parcialmente com base nas referências da professora Amy Edmondson. No entanto, há outros autores que também oferecem valiosas contribuições sobre o tema, como Timothy Clark, Edgar Schein, Peter Cauwelier dentre outros.
Espero
que essas informações úteis, um forte e fraterno abraço.
Heloisa Guimarães
Referências
Bibliográficas
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Burnout ttps://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Comportamento/noticia/2022/10/burnout-aumentou-18-entre-funcionarios-de-empresas-brasileiras-em-7-anos.html?form=MG0AV3
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Burnout https://www.contabeis.com.br/noticias/65391/burnout-brasil-e-o-segundo-pais-com-mais-casos-no-mundo/?form=MG0AV3
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Burnout https://www.bbc.com/portuguese/articles/cnk4p78q03vo?form=MG0AV3
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Edmondson, A. (2018). The Fearless Organization:
Creating Psychological Safety in the Workplace for Learning, Innovation, and Growth.
Wiley.
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Estudo Conexa: https://rhpravoce.com.br/redacao/afastamento-saude-mental-2023/?form=MG0AV3
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Google Inc. (2015). Projeto Aristóteles: A pesquisa
da Google sobre trabalho em equipe
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Lei n.º 14.831 de 27 de março de 2024, https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=LEI&numero=14831&ano=2024&ato=49aQTSU1ENZpWT272
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NR - 1 - Disposições Gerais, Portaria n.° 3.214,
08 de Junho de 1978, Ministério do Trabalho
·
NR-20 - Combustíveis Líquidos e Inflamáveis, Portaria
n.° 3.214, 08 de Junho de 1978, Ministério do Trabalho
·
Organização Internacional do Trabalho (OIT), https://www.ilo.org/pt-pt/media/378086/download
·
Organização Mundial da Saúde (OMS), 2019. Classificação
Internacional de Doenças (CID-11).
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Resolução n.º 14, 28 de junho de 2023 - https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-n-14-de-28-de-junho-de-2023-493181704
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Saúde
mental: 1 a cada 4 pessoas sofre de Burnout no Brasil (folhavitoria.com.br)
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Síndrome
de Burnout: Brasil é o segundo país com mais casos diagnosticados - Saúde - Estado
de Minas
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